A genética e as doenças cardiovasculares

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No post anterior relatei que fiz um teste genético, o qual mostra, dentre outros aspectos, a capacidade de cada indivíduo metabolizar drogas, medicamentos e compostos como a cafeína. O mesmo teste traz também o rastreamento de genes envolvidos com o aparecimento precoce de doenças. A analise de meus 23 cromossomos mostrou que meu risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares a partir dos 45 anos é de 34,2% (a média geral da população é de 24,4%). O gráfico acima, mostra quais marcadores genéticos estão presentes em meus cromossomos. No caso, foram identificados 8 deles:

1) O marcador rs10757278 está localizado entre genes do cromomossomo 9, CDKN2A e CDKN2B, os quais estão envolvidos no crescimento, regulação e morte celular. Este marcador parece atrapalhar de alguma forma estes papéis genéticos pois indivíduos com este tipo de polimorfismo apresentam maior incidência de doenças cardiovasculares. A boa notícia é que estudos tem mostrado que a dieta ameniza os efeitos do marcador rs10757278 e indivíduos que consomem mais frutas frescas e vegetais crus não tiveram maior incidência de ataques cardíacos. Já os que tiveram uma dieta pobre nestes alimentos tiveram uma incidência maior da doença (Do et al., 2011).

2) O segundo marcador que favorece doenças cardiovasculares é o rs12526453, variação do gene PHACTR1, localizado no cromossomo 6. A presença do mesmo favorece a calcificação de artérias aumentando o risco de doenças coronarianas. A principal estratégia para prevenir a calcificação das mesmas é manter os níveis de colesterol sanguíneos adequados.

3) marcador rs1122608, variante do gene SMARCA4, localizado no cromossomo 19. Este polimorfismo genético parece aumentar a quantidade da lipoproteína LDL ("colesterol ruim"). Medidas dietéticas importantes são a redução do consumo de gorduras saturadas e trans, aumento do consumo das gorduras monoinsaturadas, manutenção do peno e aumento no consumo de alimentos antioxidantes, capazes de proteger o LDL-c.

4) O marcador rs9982601 localizado próximo ao gene MRPS6, no cromossomo 21, está envolvido em doenças cardiovasculares, principalmente em indivíduos com ancestralidade européia. Ainda não são entendidos os mecanismos envolvidos.

5) O marcador rs579459 está localizado próximo ao gene ABO, no cromossomo 9. O sistema ABO é responsável pela prdução da enzima glicotransferase. Quando a mesma está ausente o indivíduo tem o sangue tipo O. Estes indivíduos costumam tem menor incidência de ataques cardíacos. Os tipos sanguíneos A e B tem maior risco de doenças circulatórias como trombose. Como meu sangue é tipo A medidas redutores do risco de trombose são fundamentais. Os principais fatores de risco para trombose são inatividade física, aumento do peso, tabagismo, etilismo, uso de anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal.

6) No cromossomo 10, o marcador rs12413409, localizado no gene CNNM2 aumenta o risco de doenças cardiovasculares mas os mecanismos ainda não são entendidos.

7) No cromossomo 11, o marcador rs964184, localizado próximo aos genes ZNF259 e APOA5, pode desregular os níveis de colesterol e triglicerídeos plasmáticos, fatores de risco para doenças do coração.

8) Por último, o marcador rs4773144, localizado no gene COL4A2 parece diminuir a produção de colágeno, desestabilizando a membrana celular e aumentando a angiogênese.

Bem, estes testes genéticos nos mostram a suscetibilidade de desenvolvimento de certas doenças. Porém, como não podemos mudar nossa genética precisamos ter o mínimo controle sobre o nosso ambiente. A dieta mediterrânea, por exemplo, tem a capacidade de reduzir o risco genético de acidente vascular cerebral e diabetes tipo 2. Pesquisadores da Universidade de Tufts em associação com um instituto espanhol, publicaram estudo na revista Diabetes Care em agosto (Corella et al., 2013). A equipe de pesquisa analisou 7.018 homens por  5 anos. Estudaram a variante do gene TCF7L2, envolvido no metabolismo da glicose, no desenvolvimento de diabetes do tipo 2 e no aumento da incidência de acidente vascular cerebral (derrame).

Cerca de 14 % dos participantes do estudo possuíam duas cópias deste gene variante. Dentre eles, os que adotaram a dieta mediterrânea, tiveram um  número reduzido de acidentes vasculares cerebrais, colocando-os em uma situação de igualdade com pessoas com uma ou nenhuma cópias da variante. Outros estudos já haviam apontados benefícios adicionais da dieta mediterrânea, como redução do risco de certos tipos de câncer, melhora do desempenho cognitivo e redução da incidência de Alzheimer em idosos.

Relembrando, os principais componentes que compõem uma dieta mediterrânea saudável são:

- Aumento do consumo de alimentos de origem vegetal crus, como frutas e verduras;

- Aumento do consumo de outros alimentos de origem vegetal como legumes, cereais integrais, castanhas e nozes;

- Substituição da manteiga e requeijão por azeite de oliva;

- Uso de ervas e especiarias em vez de sal para dar sabor aos alimentos;

- Diminuição do consumo de carnes vermelhas;

- Consumo de peixes e frutos do mar com maior regularidade;

- Diminuição do consumo de bebidas alcoólicas destiladas;

- Consumo de vinho tinto, com moderação (opcional).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Prós e contras do consumo de café

A ciência da nutrição é um campo relativamente jovem e as pesquisas parecem muitas vezes conflitantes. Uma das razões é que o método seguido por cada pesquisador pode ser diferente em um ou vários aspectos. Por exemplo, enquanto alguns estudos avaliam o impacto do consumo do café na saúde, outros avaliam o consumo de um de seus componentes, a cafeína. Mas lembre que o café não possui apenas cafeína, mas também vitaminas, minerais, antioxidantes e flavonóides.

Pontos a favor do café: outros estudos tem mostrado que o consumo moderado de café - uma a três xícaras por dia - diminui o risco de ataques cardíacos, depressão, câncer de endométrio, próstata, mama, diabetes, além da doença de Parkinson.

Pontos contra o café:  a bebida preparada sem filtro, como no caso do café expresso e do café turco, conserva o cafestol, substância capaz de aumentar o colesterol plasmático e o risco cardiovascular. Gestantes devem ter cuidados adicionais, pois o café pode ser prejudicial para o bebê, ainda incapaz de metabolizar a cafeína. O café é bebido com açúcar por grande parte das pessoas e o consumo exagerado durante o dia pode dificultar a perda de peso. Alguns também são bastante sensíveis à cafeína. A maior parte das pessoas tolera entra 200 e 300 mg de cafeína ao dia mas isto é individual. Quantidades pequenas podem causar sintomas como irritação estomacal, ansiedade, diarreia ou náuseas.

Para avaliar sua tolerância à cafeína e saber se a mesma tem mais efeitos positivos ou negativos, uma opção é realizar um teste genético afim de descobrir sua capacidade de metabolização desta substância. Recentemente fiz o teste da empresa 23andme e descobri que tenho a capacidade de produzir enzimas hepáticas que aumentam a velocidade de metabolização da cafeína e reduzem o risco cardíaco. Mesmo assim, como possuo arritmias e não sou habituada a ingerir café, continuo dando preferência aos chás, que também possuem substâncias antioxidantes e antiinflamatórias, além de possuir menos cafeína.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Correr ou não correr em jejum?

Meu artigo publicado na revista contra-relogio em 01 de novembro de 2013:

Você deve conhecer corredores que fazem um café da manhã rico em carboidratos e seguem para o treino. E também aqueles que não gostam de mastigar nada antes do treino e substituem o pão por um shake de proteína. E ainda pode ser que alguns de seus colegas de corrida não comam de manhã, pois acordam sem fome ou, se comem, sentem-se pesados e desconfortáveis para correr. Fora estes, também se lembrará daqueles que correm em jejum na tentativa de emagrecer.
Mas o que acontece com nosso corpo quando corremos em jejum? Nosso cérebro é altamente dependente de glicose (vinda dos carboidratos). Se corremos em jejum, a hipoglicemia (queda dos níveis de açúcar no sangue abaixo de 60 mg/dl) leva à utilização das reservas de glicogênio e também musculares. Esta adaptação costuma ser bastante eficiente em situação de repouso e exercícios leves, porém nem sempre ocorre de forma adequada durante o exercício mais intenso, levando a dores de cabeça, mal-estar ou mesmo desmaios. Estes sintomas são bastante individuais e existem, sim, pessoas que se adaptam muito bem a exercícios em jejum. O importante é procurar entender como seu corpo funciona.

Beneficios? Tirando o bem-estar que alguns podem sentir ao correr mais leves, não parece existir outros benefícios da corrida em jejum. Veja o caso da estética e do emagrecimento: é verdade que quando o exercício é realizado em uma intensidade mais baixa, o jejum pode ser benefico para estimular a queima de gordura e o emagrecimento. Porém, esta prática leva, a longo prazo, a uma desaceleração do metabolismo. Ou seja, depois de algum tempo repetindo treinos em jejum, vai ficando cada vez mais difícil emagrecer. Além disso, o uso da musculatura pode levar à flacidez, ao aumento do risco de lesões e maior grau de intolerância à glicose, nos indivíduos propensos a tal alteração nas quantidades de açúcar no sangue.
Uma sensação editorial recente nos Estados Unidos é o livro "The Fast Diet", que defende a tese de que podemos perder peso comendo normalmente cinco dias por semana e diminuindo bastante a quantidade de alimentos nos outros dois. Seguindo esta orientação e considerando que a maioria das pessoas não corre todos os dias, tente então diminuir o consumo de alimentos justamente nos dias em que não correrá. Mas atenção: não reduza tanto as proteínas para não perder massa magra junto com a gordura corporal. Se precisar reduzir o consumo de proteínas, é recomendável a suplementação com cápsulas de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA).
E mais um motivo para não correr em jejum: a prática pode contribuir para o aumento dos níveis de ácido úrico. Isso acontece porque uma das formas de se produzir ácido úrico é aumentar a degradação da Adenosina Tri Fosfato (ATP), a forma como nossas células usam a energia dos alimentos. Sem comer, mais ATP é degradado e mais ácido úrico é produzido, aumentando o risco de inflamações articulares e da doença gota.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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