Jejum como arma para manutenção do cérebro saudável

Um novo estudo conduzido em moscas de frutas sugere que o jejum intermitente estende a expectativa de vida e a saúde por meio da autofagia circadiana (Ulgherait et al., 2021). A autofagia reduz a velocidade de neurodegeneração associada ao envelhecimento.

O cérebro é o centro de todas as funções e sistemas do corpo. É essencialmente o centro de comando do sistema nervoso que percebe estímulos, ativa respostas e obtém e envia sinais por todo o corpo para mantê-lo seguro e saudável. O cérebro armazena o que você aprendeu, suas memórias e possibilita sonhos. Permite que você trabalhe, estude, divirta-se.

Quando o cérebro degenera-se surge confusão mental, os esquecimentos passam a ser mais frequentes, a memória falha, a personalidade modifica-se. Como muitas doenças não tem cura (como o Alzheimer), a prevenção é importantíssima.

O interessante é que quando comemos muito não temos tempo de fazer reparo de células. Já quando falta energia, o corpo dá um jeito de usar o que tem. Neste processo, toxinas são eliminadas mais facilmente. São várias as estratégias que aumentam a limpeza do cérebro. A autofagia, um sistema de degradação catabólica, é utilizada para destruir e reciclar os componentes celulares danificados ou desnecessários, possibilitando maior plasticidade.

O que é plasticidade cerebral ou neuroplasticidade?

A plasticidade cerebral se refere às características notáveis dos neurônios cerebrais que mudam sua estrutura e função de acordo com a experiência anterior.

Genética pode alterar capacidade de autofagia

Autofagia é o processo de degradação e limpeza de detritos inertes da célula. É um processo extremamente importante e apresenta muitas funções, entre elas mediar a degradação lisossomal e a depuração de bactérias intracelulares.

O comprometimento da autofagia leva ao acúmulo anormal de "lixo" celular que acabará afetando o organismo, aumentando o risco de doenças neurológicas e imunológicas, Diabetes Melitus tipo 2 e doença gordurosa não alcóolica do fígado (esteatose hepática), por exemplo.

O gene ATG16L1 codifica uma proteína que é um componente vital de um complexo protéico necessário para a autofagia. Vários estudos demonstraram que NOD2 interage com ATG16L1 e que a expressão de variantes associadas a doença de Chron interrompe a associação entre essas proteínas, prejudicando a eliminação bacteriana e a apresentação de antígenos.

O alelo G do polimorfismo rs2241880 ou rs10210302 do ATG16L1 aumenta a suscetibilidade à clivagem da caspase-3 e reduz sua função, aumentando o risco de doença de Chron. Neste caso, sugere-se o consumo adequado de curcumina, inositol, catequinas, resveratrol, cafeína, jejum intermitente de 12 a 15 horas e restrição calórica, mediante orientação de nutricionista. É interessante também monitorar níveis de glicose, insulina e hemoglobina glicada.

Como promover a autofagia cerebral e promover a neuroplasticidade?

Existem muitas estratégias protetoras para o cérebro. Tente colocar o maior número delas em prática:

1 - DURMA BEM

Para promover a autofagia cerebral, é importante que você priorize o sono restaurador. O sono é essencial para o descanso, reparo e regeneração celular. Isso significa que o sono permite a autofagia cerebral. Eu recomendo que você vá dormir e acorde na mesma hora todos os dias para apoiar seu ritmo circadiano e ciclo de sono.

2 - MANTENHA O ESTRESSE SOB CONTROLE

Esta é uma das questões mais difíceis para munta gente. Tem horas que parece que o mundo está louco e estamos enlouquecendo com ele. Mas, manter o estresse sob controle é absolutamente essencial para a autofagia e a saúde do cérebro. Recomendo que você mantenha um diário de gratidão e pare ao longo do dia para agradecer pelas pequenas coisas. Aprenda a reformular seus pensamentos negativos em positivos.

Você também pode marcar um consulta com um terapeuta online (recomendo a Julia Maciel), praticar yoga, meditar, rezar, fazer atividade física, ouvir música. O que quer que funcione para você.

3 - FAÇA CICLOS DE ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS E ENTRE EM CETOSE, DE VEZ EM QUANDO

A cetose é uma forma eficaz de apoiar a autofagia cerebral. A maioria das pessoas consome uma dieta rica ou moderada em carboidratos, o que significa que seu corpo depende da glicose (açúcar) para obter energia. No entanto, se seu corpo não recebe glicose suficiente precisará recorrer à gordura armazenada para obter energia. Estes se convertem rapidamente em cetonas que entram em suas mitocôndrias e se convertem em energia.

A cetose suporta autofagia, biogênese mitocondrial, saúde do cérebro e agudeza mental. Para atingir a cetose e apoiar a autofagia cerebral, recomendo uma combinação de dieta cetônica e jejum intermitente. Para aprender mais sobre cetose, recomendo este curso online.

4 - JEJUM INTERMITENTE

O jejum intermitente gera muitos benefícios, incluindo reparo celular, autofagia, regulação imunológica, redução dos níveis de inflamação e melhoria da sensibilidade à insulina. Também ajuda a diminuir o risco de doenças neurodegenerativas e demências.

Pacientes com neuroinflamação, maior risco de Alzheimer ou doenças autoimunes podem se beneficiar de jejuns mais frequentes e mais longos - 16 a 20h (pelo menos 2 vezes por semana). Este é um tempo suficiente para melhorar a expressão de genes como PGC1a, NRF2 e também a biogênese mitocondrial.

A autofagia recebe sinais de jejum através de dois sensores metabólicos, mTOR e AMPK. Sob a condição de depleção de nutrientes, o mTOR se desprende do complexo ULK1 levando à ativação da autofagia. Considerando que, AMPK regula negativamente o mTOR, e também ativa diretamente o complexo ULK1, agindo assim como um regulador positivo da autofagia em resposta à depleção de nutrientes (Hannan et al., 2020).

Obesos ou pessoas que já fizeram muitas dietas precisam ter mais cuidado. Jejuns mais longos podem atrapalhar e desequilibrar alguns comportamentos alimentares e gerar mais compulsão. Outra questão é o que vamos comer após o jejum. De nada adianta jejuar e depois só consumir alimentos ruins para seu corpo. Durante o jejum a pessoa pode tomar água, chás e shots sem açúcar e tinturas antioxidantes.

5 - CONSUMA UMA DIETA ANTIINFLAMATÓRIA

Se você deseja alcançar a autofagia cerebral e apoiar a saúde do seu cérebro, certifique-se de consumir uma dieta antiinflamatória, de apoio ao cérebro, abundante em alimentos ricos em nutrientes. Remova todos os alimentos inflamatórios, incluindo açúcar refinado, glúten, óleos refinados, alimentos fritos e processados, laticínios, embutidos, refrigerantes e bebidas açucaradas e alimentos aos quais você é sensível (um teste nutrigenético é muito útil).

Consjuma vegetais em abundância como espinafre, couve e acelgas, pepino, aipo e aspargos, frutas de baixo índice glicêmico, como limão, lima e frutas vermelhas, ervas e especiarias, incluindo açafrão, gengibre, sálvia, alecrim e manjericão, gorduras saudáveis, como abacate, óleo de coco, azeite de oliva extra virgem e manteiga orgânica e ghee, ovos.

6 - MANTENHA-SE ATIVO

O exercício regular é fundamental para a autofagia e a saúde do cérebro. Ajuda a reduzir a inflamação crônica, a pressão arterial, a glicemia e os níveis de colesterol, além de diminuir o estresse, melhora o humor, a memória e o aprendizado, reduzindo o risco de declínio cognitivo. Eu recomendo que você se exercite pelo menos 20 a 30 minutos 5 vezes por semana e permaneça ativo durante todo o dia.

7 - FAÇA SAUNA

Para apoiar a autofagia cerebral, você pode considerar a terapia de calor. O estresse do calor estimula seu corpo a destruir células velhas e danificadas .

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estratégias dos centenários para viver mais e melhor

Cada vez mais se fala da imortalidade digital. Cientistas estudam como armazenar nosso cérebro e nossa memória quando o corpo não puder mais funcionar. Será que viveremos dentro de grandes máquinas e seremos de fato imortais? Atualmente há um limite de tempo que os seres humanos podem viver, cerca de 120 anos. Pessoas que vivem mais têm uma genética favorável. Por exemplo, idosos que ultrapassam os 80 anos com saúde produzem mais superóxido dismutase (SOD), uma enzima antioxidante, que também pode ser suplementada. Além disso, suplementos de curcumina também parecem aumentar a SOD (Shen et al., 2013).

Além das questões genéticas favorecedoras, centenários tendem a consumir menos calorias, mais frutas e verduras, pouco alimento industrializado e são fisicamente ativos. A dieta mediterrânea vem sendo bastante pesquisada como estratégia para a longevidade. Este padrão dietético é rico em gorduras monoinsaturadas (principalmente do azeite), ômega-3 (de peixes), verduras, feijões e chás de ervas como hortelã, camomila, hibisco, gengibre, equinácea, rooibos e erva-cidreira.

Os que vivem mais de 100 anos com saúde costumam ter níveis mais baixos de IGF-1 e elevadas concentrações de HDL. O IGF-1 ou fator de crescimento semelhante à insulina de tipo 1 promove o crescimento dos tecidos desde a gestação até à infância, além de ter alguns efeitos anabolizantes na idade adulta. Contudo, o excesso está associado a maior risco de câncer e doenças cardiovasculares. Dietas ricas em açúcares e gordura animal (como laticínios gordos) contribuem para a elevação de IGF-1 e redução da lipoproteína de alta densidade (HDL). Este é o perfil de pessoas mais inflamadas e que desenvolvem doenças crônicas mais cedo. Uma forma de envelhecer de forma mais lenta é comer menos para estimular a autofagia, processo de reciclagem/degradação de materiais indesejáveis do organismo.

Atributos psicológicos da longevidade

O otimismo é um atributo psicológico comum entre os centenários. Caracteriza-se pela expectativa geral de que coisas boas acontecerão e de que o futuro será mais favorável. Estudos mostram que pessoas otimistas têm menos probabilidade de sofrer de doenças crônicas e morrer prematuramente (Lee et al., 2019). Um estudo de metanálise (o mais alto grau de evidência científica) publicado em 2022 mostrou que pessoas mais otimistas morrem menos por doenças cardiovasculares. Tudo está ligado, intestino, cérebro, coração, fígado, pele. Está tudo sempre se influenciando, sempre.

O otimismo é uma característica modificável. Faça o exercício de meditar imaginando um futuro melhor, mais compassivo, mais amoroso, em situações diferentes, com pessoas diferentes, lugares diferentes. Depois anote o que for importante e planeje para modificar sua vida para melhor. Aqui você encontra exercícios de autocoaching.

Outra característica comum aos que vivem mais é a amplitude de conexões sociais, seja nos momentos de lazer, seja no trabalho. Redes de apoio podem ser construídas dentro ou fora da família. Podem ser construídas nos clubes, nos parques, na academia, nos cafés, na igreja, em instituições onde possa voluntariar… O importante é combater a solidão.

Para vivermos muito nossas células precisam estar saudáveis e o reparo celular acontece à noite, enquanto dormimos. Pessoas que vivem mais dormem cerca de 7 a 8 horas todas as noites. Não negligencie o descanso. Durante o dia, ao invés de exercícios extenuantes e que aumentam o risco de lesões, mova-se naturalmente, como fazem as pessoas das zonas azuis.

Zonas Azuis são locais no mundo onde as pessoas são mais longevas, ultrapassando a marca de 100 anos de idade. Tais regiões foram identificadas por cientistas e demógrafos, que constataram nos locais características e práticas específicas que resultam em casos de alta incidência de longevidade. Uma das características importantes das pessoas com grande longevidade é que aprenderam a equilibrar trabalho, família e lazer.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

2020-2030: a década do envelhecimento saudável

Todas as pessoas devem ter a oportunidade de viver uma vida longa e saudável. No entanto, os ambientes em que vivemos podem ou não favorecer a saúde. O ambiente (lar, vizinhança, trabalho, sociedade em geral) em que vivemos influencia nosso comportamento, a exposição a toxinas, o acesso aos cuidados de saúde. Criar ambientes seguros e oportunidades que permitam às pessoas serem e fazerem o que valorizam ao longo de suas vidas faz parte do envelhecimento saudável.

A Organização Mundial de Saúde define o Envelhecimento Saudável "como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que possibilita o bem-estar na terceira idade". A capacidade funcional é ter as capacidades que permitem que todas as pessoas sejam e façam o que têm motivos para valorizar, como a (1) capacidade de atender às suas necessidades básicas; (2) de aprender, crescer e tomar decisões; (3) poder movimentar-se; (4) construir e manter relacionamentos; e (5) contribuir para a sociedade.

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Recentemente, a OMS lançou a iniciativa “2020-2030: a década do envelhecimento saudável”, incentivando a articulação entre sociedade civil, governos, agências internacionais, profissionais de saúde, universidades, mídia e setor privado, para que possam discutir os desafios e propor estratégias para que mais pessoas vivam mais e com mais saúde e vitalidade.

Professor de genética de Harvard, David Sinclair, acabou de lançar o livro “Lifespan: Why We Age—and Why We Don't Have To”, que traz os detalhes moleculares do envelhecimento e um programa que todos podem seguir para viver mais e com mais saúde, como jejum, sauna, suplementação para proteção dos telômeros e controle da disfunção mitocondrial. O autor do livro também pratica yoga. Aliás, muitos professores yoga notabilizaram-se por sua longevidade, como Indra Devi (103 anos); Tao Porchon-Lynch, que aos 101 anos continua ensinando Yoga, B.K.S Iyengar (96 anos); Hermógenes (94 anos); Pattabhi Jois (93 anos) e Shri Yogendra (92 anos). O que está esperando para começar?

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/