Os agrotóxicos mais vendidos no Brasil

A dieta dos brasileiros é rica em agrotóxicos, inclusive os mais tóxicos à saúde e ao meio ambiente. O Glifosato, produto mais vendido no Brasil , é despejado em nossos alimentos por pulverização aérea ou com o uso de trator, contaminando solo, lençóis freáticos, hortas, áreas urbanas e atmosfera.

As análises da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram níveis altíssimos de contaminação em produtos como o arroz, alface, mamão, melão, pepino, uva, soja, leite, carne e pimentão.

Os grandes produtores desdenham da proibição dos venenos usados na agricultura, mesmo com o aumento da incidência de câncer em trabalhadores rurais e em suas famílias. Os agrotóxicos mais utilizados no Brasil estão mostrados na tabela publicada pelo IBAMA.

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O glifosato (glicina + fosfato) foi desenhado para matar quaisquer plantas, exceto as geneticamente modificadas para resistir ao produto. Seu uso tem sido associado a maior incidência de câncer, à redução da progesterona em células de mamíferos, a abortos e a alterações teratogênicas por via placentária. O Limite Máximo de Resíduos (LMR) de glifosato permitido na soja na União Europeia (UE) é de 0,05 mg/kg. No Brasil é de 10 mg/kg, portanto um limite 200 vezes maior.

O 2º agrotóxico mais vendido no Brasil é o 2,4-D (ácido diclorofenóxiacético), o qual está presente em mais de 1.500 herbicidas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o produto é possivelmente carcinogênico para humanos, induz estresse oxidativo, causa imunossupressão, interfere no funcionamento normal do sistema hormonal dos organismos, impede a ação normal de hormônios estrógenos, andrógenos e, mais conclusivamente, da tireoide.

O acefato é um inseticida classificado pela OMS como “moderadamente tóxico”. O Limite Máximo de Resíduos (LMR) de acefato permitido na água potável na UE é de 0,1 μg (micrograma = 1/1000 miligrama); no Brasil, não há limite estabelecido. Clorpirifós alteram o funcionamento de neurotransmissores (acetilcolina) no sistema nervoso central. Foi banido dos Estados Unidos no governo Obama mas após a eleição de Trump voltou a ser comercializado. Importante lembrar que o presidente Trump recebeu dinheiro em sua campanha eleitoral da Dow Chemical, produtora desse composto. O Limite Máximo de Resíduos (LMR) de clorpirifós permitido na água potável na UE é de 0,1 μg (micrograma = 1/1000 miligrama), no Brasil é de 30 μg, portanto um limite 300 vezes maior. 

A atrazina é um agrotóxico produzido pela Syngenta. Afeta a fotossíntese e atua em sinergia com outros herbicidas. Tyrone B. Hayes, da Universidade de Berkeley, e colegas mostraram que esse composto pode mudar o sexo da rã-de-unha africana (Xenopus laevis) e que “a atrazina e outros pesticidas perturbadores endócrinos são prováveis fatores em ação nos declínios globais dos anfíbios”. Em 2015, Andrea Vogel e colegas mostraram que a atrazina é um perturbador endócrino em invertebrados. A Itália e a Alemanha baniram a atrazina em 1991, e em 2004 a atrazina foi proibida em toda a UE. O Limite Máximo de Resíduos (LMR) de atrazina permitido na água potável na UE é de 0,1 μg (micrograma = 1/1000 miligrama), no Brasil é de 2 μg, portanto um limite 20 vezes maior.

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A malationa é outro inseticida muito utilizado. Inibe a enzima acetilcolinesterase, levando à clássica síndrome colinérgica. A mesma pode ser acompanhada de sintomas diversos incluindo: falta de apetite, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, incontinência fecal, dor ao defecar, broncoespasmo, dificuldade respiratória, aumento da secreção brônquica, edema pulmonar, tosse, dor torácica, lacrimejamento, salivação, sudorese, incontinência urinária, tremores, fraqueza, ausência de reflexos, paralisia muscular, hiperglicemia.

A malationa pode ser aplicada nas folhas de culturas como alface, algodão, berinjela, brócolis, cacau, café, citros, couve, couve-flor, feijão, maçã, morango, orquídeas, pastagens, pepino, pera, pêssego, repolho, rosa, soja e tomate, arroz, feijão, milho, sorgo e trigo. O limite no Brasil é 16 vezes superior do que o permitido na União Europeia.

Além dos agrotóxicos permitidos nossos alimentos também apresentam pesticidas banidos como o Endosulfan, prejudicial aos sistemas reprodutivo e endócrino. Aliás, o composto apareceu em 44% das amostras de leite materno analisadas por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). A deltametrina, outro agrotóxico extremamente tóxico apareceu em 37% das amostras de leite materno.

Relatório publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, convocam a população mundial a adotar uma dieta baseada em vegetais. A população está crescendo e a temperatura do planeta continua a aumentar, o que prejudica a produção de alimentos e ameaça a vida.

O paraquate, que provocou um surto de intoxicação aguda em crianças e idosos na cidade, em 2007, o Metamidofóis, e o Glifosato apareceram em 70 das 79 amostras de sangue e urina de professores da área rural junto com outro veneno ainda não proibido, o Piretroides.

E daria para produzir com menos veneno? Sim! O mundo todo produz com menos veneno do que o Brasil. Aliás, é o pequeno produtor o maior responsável pela alimentação que chega à nossa mesa e com pouco veneno. De acordo com o Censo agropecuário do IBGE, apenas 30% das pequenas propriedades usam agrotóxico. Das grandes propriedades, são 80%. O problema é que a política do governo prioriza o agronegócio, a grande produção, mesmo que isso tenha consequências negativas para a nossa saúde física e mental, sem falar da saúde do meio ambiente.

A bancada ruralista no congresso é composta por parlamentares que defendem justamente os interesses dos grandes e ricos produtores. Que apoiam o uso de indiscriminado de veneno no seu prato. Jair Bolsonoro e Alckimin já se posicionaram favoravelmente ao “pacote do veneno”, pacote de medidas que vai liberar ainda mais o uso de agrotóxicos nos alimentos produzidos no Brasil. Marina e Boulos posicionam contra. Ciro Gomes é a favor com ressalvas mas a vice dele é a Kátia Abreu, empresária e pecuarista, conhecida como a “rainha da motosserra”, título dado pelo Greenpeace às pessoas que contribuem para o aumento do desmatamento.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/