Batatas são inimigas? Claro que não!

Apesar de sua popularidade, as batatas têm a reputação de serem alimentos pouco saudáveis, pelo alto conteúdo de carboidrato na forma de amido. No entanto, batatas são ricas em amido mas também em amido resistente, um tipo de fibra que melhora a microbiota intestinal, eleva a produção de butirato e reduz a inflamação de todo o organismo (Baxter et al., 2019).

Vários estudos têm demonstrado que uma microbiota intestinal diversa e saudável é essencial para o tratamento da disbiose, para a manutenção e recuperação da saúde e que a dieta variada é a chave para tanto. Batatas com cascas vermelhas e roxas são ainda mais benéficas por conterem antocianinas e outros compostos fenólicos (como ácido clorogênico). Estes compostos reduzem a atividade de enzimas que degradam carboidratos (como alfa-glucosidase e alfa-amilase), ajudando a manutenção da glicemia e reduzindo as complicações da diabetes (Kalita et al., 2018). O mesmo acontece com o consumo de batata doce (Tuyet et al., 2007).

Carboidratos: livre-se deste medo

Blogueiras fitness vivem afirmando que o corte de carboidratos é essencial à boa forma. Contudo, podemos atingir a boa forma de várias maneiras. Alimentos ricos em carboidratos possuem vários benefícios. São ricos em fibras, antioxidantes, fitoquímicos com várias funções benéficas à saúde. O problema está sempre no consumo exagerado e em alimentos ultraprocessados que contém carboidratos refinados e nada mais, como balas, chocolates, doces, salgadinhos e refrigerantes.

Carboidratos (ou hidratos de carbono) são moléculas que possuem átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Quimicamente são definidos como poli-hidroxi-aldeídos ou poli-hidroxi-cetonas. 

  • Glicose (C6H12O6) - é um poli-hidroxi-aldeído porque possui muitos radicais hidroxila ( -OH) e um radical aldeído ( -CHO).

  • Frutose (C6H12O6) - é um poli-hidroxi-cetona porque possui muitos radicais hidroxila ( -OH) e um radical cetona ( -CO).

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O principal objetivo dos carboidratos na dieta é fornecer energia. A maioria dos carboidratos é quebrada ou transformada em glicose, que pode ser usada como energia. Se consumidos em excesso, carboidratos também podem ser transformados em gordura (energia armazenada), para uso posterior (o que também não é ruim).

Fibras dietéticas também são um tipo de carboidrato e são uma exceção pois não fornecem energia, já que não podem ser digeridas pelo organismo humano. Contudo, como vimos, são muito importantes para alimentar as bactérias boas do intestino (bactérias probióticas) que produzirão butirato. Centenas de estudos sobre alimentos fontes de carboidratos complexos, ricos em fibras, incluindo vegetais, frutas, legumes e grãos integrais, mostram melhorias metabólicas e redução do risco de doenças. Ou seja, carboidratos não são todos iguais. Uma batata com casca roxa não é igual a uma batata frita do mcdonalds, cheia de gordura e açúcar. Isso mesmo, cadeias de fast food têm aquela batatinha crocante e doce pois incluem no preparo dextrose (açúcar derivado do milho), além de conservantes (como ácido pirofosfato de sódio).

Muitas populações são bastante longevas consumindo carboidratos bons. É o exemplo dos habitantes de Okinawa, que consomem batante arroz e legumes.

Mas sim, dietas com pouco carboidrato podem ser boas para algumas pessoas, como diabéticos, pessoas viciadas em açúcar e pessoas com epilepsia. Para os demais, dietas restritivas tendem a gerar mais compulsão e ganho de peso a longo prazo.

Mas veja, os humanos têm ingerido carboidratos desde muito antes da epidemia de obesidade e há muitos exemplos de populações que permaneceram em excelente estado de saúde enquanto ingeriam dietas ricas em carboidratos. Mais uma vez: o principal é reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e evitar consumo exagerado de alimentos. Perceba-se, aprenda a falar com seu corpo, observe se está com fome, gula, tédio, sede, carência, antes de alimentar-se.

ESTAS HABILIDADES SÃO CONSTRUÍDAS AO LONGO DO TEMPO

Estudos mostram que focar na qualidade é mais importante do que cortar calorias ou carboidratos, para a a maior parte das pessoas. Com o aconselhamento as pessoas aprendem a escolher melhor os alimentos, são encorajadas a comer sem distrações e a fazer mudanças sustentáveis, já que a perda de peso e o controle da glicemia dependem de uma mudança na relação com a comida. A associação de psicoterapia com um plano de nutrição comportamental funciona muito bem.

A obesidade é complexa

Mas também a vários outros fatores como renda, desemprego, desvantagens sociais, estilo de vida, acesso aos alimentos, tempo passado assistindo TV, genética, padrão de sono, uso de drogas ou álcool, contato com poluentes entre tantos fatores. Culpar os carboidratos ou as batatas é uma visão bastante simplificada do problema.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Batata doce no combate do câncer

Depois do trigo, do arroz e do milho, a batata é o quarto alimento mais cultivado no mundo. Dentre as variedades de batata destacam-se a ingliesa, doce, asterix, yacon e baroa. Destas, a batata doce é a mais rico em carotenóides, substâncias antioxidantes que fazem com que a coloração da bata doce seja diferenciada. Enquanto a batata inglesa não possui carotenóides uma batata doce média possui mais de 1.000 mg de carotenos, com atividade anti-cancerígena.

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Mulheres na pré-menopausa que consumem mais batata-doce e outras frutas e vegetais ricos em carotenóides têm uma incidência significativamente menor de câncer de mama em comparação com aqueles que consumiram menos carotenóides. Mulheres que consumiam duas ou mais porções diárias de frutas e vegetais ricos em carotenóides tinham um risco 20% menor de denvolverem câncer de mama(Mignone et al., 2009).

Esses achados são consistentes com outros estudos e sugerem que o alto consumo de carotenóides pode reduzir o risco de câncer de mama entre mulheres na pré-menopausa (Gong et al., 2018). Carotenóides também reduzem o risco de câncer de próstata (Hoang et al., 2018).

Carotenóides estão presentes em grandes quantidades em frutas e vegetais amarelos e alaranjados e em verduras de folhas verdes escuras, e são responsáveis por sua coloração vibrante. Estudos experimentais sugerem que os carotenóides podem suprimir o desenvolvimento do câncer de várias maneiras. Certos carotenóides demonstraram inibir a proliferação celular e também a angiogênese, o crescimento de vasos sanguíneos tumorais. Carotenóides dietéticos também parecem suprimir os efeitos estimulantes do estrogênio na proliferação de células de câncer de mama.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Comparando fontes de carboidratos

- Arroz branco x Arroz integral: Fornecem quase a mesma quantidade de calorias por porção. Ambos possuem quantidades apreciáveis das vitaminas tiamina e niacina e nenhum fornece boas quantidades das vitaminas antioxidantes A, C ou E. Apesar destas similaridades o arroz integral ganha pois contém mais magnésio e selênio além de fornecer 3 vezes mais fibras, importantes para o controle glicêmico, para a saciedade e para o bom funcionamento dos intestinos.

- Batata inglesa com pele: uma unidade média contém mais fibras, mais vitamina C, vitamina B6, ácido fólico e ferro do que 150gramas de arroz além de fornecer menos calorias e carboidratos.

- Batata doce: a campeã da lista de hoje por fornecer vitamina A, vitamina C, fibras, minerais, metade das calorias e dos carboidratos do arroz!

Por isto, não abuse do arroz - mesmo do integral - e varie os tipos de carboidratos de sua dieta.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/