Causas e tratamento da esclerose lateral amiotrófica (ELA)

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa rara não contagiosa, que evolui de forma progressiva. Nesta doença, os neurónios motores que conduzem a informação do cérebro aos músculos (passando pela medula espinhal) morrem prematuramente. Como consequência, os músculos vão ficando mais fracos dificultando o caminhar, o falar, o andar, dentre outros movimentos. A doença começa a dar sinais em uma única parte do corpo, espalhando-se rapidamente para a maioria dos músculos, incluindo o diafragma, aumentando o risco de morte por insuficiência respiratória.

Pacientes com ELA podem sofrer de deficiências cognitivas, como demência frontotemporal, comprometimento cognitivo executivo, comprometimento cognitivo não executivo. Estima-se que no mundo sejam diagnosticados entre 5.700 e 6.400 novos casos anualmente e a incidência vem aumentando ano a ano.

Na Noruega, por exemplo, a incidência (novos casos) da doença aumentou de 1,60 por 1.00.000 pessoas-ano entre 1978 e 1988 para 2,10 pessoas-ano entre 2000 e 2015. No mundo a incidência variou de 0,42 por 1.00.000 pessoas-ano a 2,76 por 1.00.000 pessoas-ano, sendo maior nas regiões mais desenvolvidas do globo. Isto deve-se, em parte, à maior longevidade das populações mais ricas. A idade média de diagnóstico da doença está entre os 58 e 60 anos mas pode ocorrer mais cedo ou mais tarde.

Causas da esclerose lateral amiotrófica

Entre as causas da doença estão mutações genéticas, como uma expansão de repetição de hexanucleotídeo GGGGCC no gene C9orf72 (região 9p21.2) que é mais rara na Ásia do que em outras partes do mundo.

Observa-se também na ELA um acúmulo da enzima Superóxido Dismutase (SOD-1) mutada no citoplasma das células, o que gera redução da produção de glutationa, aumento do estresse oxidativo, inflamação, desequilíbrio da homeostase do cálcio e apoptose de neurônios.

Papel do estresse oxidativo no ganho de função tóxico da SOD1 mutante (Franco et al., 2013)

Como parte do sistema de defesa antioxidante, a superóxido dismutase 1 (SOD1) é uma enzima presente no citosol das células. A mutação pode aumentar a produção de peróxido de hidrogênio e outros radicais livres, principalmente nos pacientes deficientes em zinco.

Para compensar esta mutação maiores quantidades de glutationa são necessárias. Controlar o ambiente também é importante. Para pessoas com tais mutações a exposição a fatores ambientais que aumentam o estresse oxidativo também parece aumentar o risco de doenças. Entre estes fatores estão estresse, fumo, exposição solar excessiva, contato com pesticidas, poluição e carências nutricionais (baixo consumo de vitaminas e flavonóides antioxidantes).

Outra possível causa para a doença é o contato com a neurotoxina β-N-metilamino-L-alanine (BMAA) presente na água, ar, certos alimentos (sementes de trigo - Triticum aestivum) e cianobactérias de certas regiões do mundo (Li et al., 2024). Esta toxina é incorporada em proteínas e toma o lugar do aminoácido serina. Por isso, a suplementação de L-serina em altas doses (15g até 2 vezes ao dia) é recomendada (Bradley et al., 2017).

Por fim, outra teoria para a ELA é a infecção pelo vírus HERV-K que causa neurotoxicidade e neurodegeneração (Steiner et al., 2022). Quando o vírus é encontrado o tratamento é o uso de antiretrovirais (como aqueles usados no tratamento de pacientes com HIV).

Tratamento da esclerose múltipla

O tratamento requer a participação de equipes multidisciplinares englobando médicos, farmacêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e, em alguns casos, assistentes sociais, para a adaptação da assistência às necessidades individuais dos pacientes.

A nutrição pode contribuir com o tratamento com a suplementação de L-serina, o uso de antioxidantes (vitamina C, vitamina E) que não estimulem SOD-1 e nrf2, com substâncias antiinflamatórias (como ômega-3, curcumina, resveratrol, melatonina e EGCG), magnésio e vitamina D (para equilibrio da homeostase do cálcio), teanina do chá verde que inibe neurotransmissão glutamatérgica (responsável pela citoxicidade neuronal), além de nutrientes para reparo mitocondrial como glutationa e coenzima Q10 (Carrera-Juliá et al., 2020).

Fisiopatogênese da ELA. O estresse oxidativo é causado por um desequilíbrio entre as defesas antioxidantes e a produção de radicais livres (Carrera-Juliá et al., 2020)

O ideal é o uso da glutationa lipossomal, uma vez que outras formas orais do composto não são bem absorvidas. Outra opção é que o neurologista prescreva a glutationa injetável. Além disso, há pressa já que a doença tende a evoluir rápido e a taxa de sobrevida varia em média em 3 a 4 anos após o diagnóstico. Sem glutationa a morte neuronal é acelerada (Franco, & Cidlowski, 2012), principalmente pela disfunção mitocondrial resultante.

Para pacientes com dificuldade de deglutição alterações na consistência podem ser necessárias, assim como a terapia enteral em casos mais graves. O gasto energético pode estar aumentado. Por isso, recomenda-se acompanhamento nutricional para evitar perda de peso e agravamento da perda muscular.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Altos níveis de mercúrio aumentam a necessidade de glutationa em pessoas com autismo

Fatores genéticos, nutricionais e ambientais têm sido implicados como fatores de risco para o autismo. O estresse oxidativo, incluindo baixos níveis plasmáticos do antioxidante glutationa atrapalha a regulação epigenética e a metilação, aumenta o estresse oxidativo, com consequências no desenvolvimento neurológico (Hodgson et al., 2014). A glutationa também ajuda a reciclar antioxidantes, a reparar o DNA, a destoxificar toxinas como o mercúrio.

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Muitos pesquisadores avaliam quais fatores geram maior neuroinflamação e comprometimento do funcionamento cerebral. Dentre os fatores ambientais suspeitos estão: chumbo, metil mercúrio, bisfenol, pesticidas organofosfatados, pesticidas organoclorados, disruptores endócrinos, fumaça de veículos automotivos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, éteres e compostos perfluorados.

Em revisão publicada por Kern e colaboradores (2016)  74% dos 91 estudos avaliados mostraram um relacionamento entre o mercúrio e o autismo. Isto acontece pois o mercúrio gera ativação autoimune, estresse oxidativo e neuroinflamação, que por sua vez conduzem a danos no cérebro e perda de conexões entre neurônios. Parece que quanto maior é a quantidade de mercúrio circulante maior é a severidade dos sintomas observados. Os cuidados devem começar desde a gestação, minimizando a circulação de mercúrio pelo organismo. Além do uso de glutationa, mulheres também podem fazer uso da microalga de água doce Chlorella.

Uso da glutationa via oral

A glutationa é produzida no corpo e também pode ser suplementada, usada de forma intramuscular ou intravenosa. A suplementação oral é feita na forma reduzida (dose usual para adultos de 100 a 300 mg/dia) ou lipossomal (dose usual de 250 a 500 mg/dia). Outra forma de aumentar a glutationa é administrando o precursor N-acetil cisteína (NAC, na dose para adultos de 600 a 1.500 mg, em geral).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Ácido lipóico ajuda o emagrecimento em crianças, adolescentes e adultos acima do peso

O ácido lipóico (também denominado ALA, alfa-lipoato, ácido alfa-lipóico) é um composto sulfurado (que contém enxofre), derivado do ácido octanóico. Em condições fisiológicas, o ácido lipóico está, em sua maior parte, disponível no organismo como lipoato. Está presente em alimentos como brócolis, espinafre, porém em quantidades muito pequenas e pouco disponíveis. Atua como uma vitamina do complexo B, sendo cofator para várias enzimas. Ativa a fase 2 de destoxificação hepática, facilitando a excreção de toxinas, agindo como agente protetor celular.

Os níveis plasmáticos declinam com a idade e a suplementação tem sido estudada na atenuação de condições com danos ao fígado induzidos pelo álcool, mal de Alzheimer, agente antiienvelhecimento, anticâncer, protetor cardiovascular, prevenção da catarata, adjuvante em tratamento quimio ou radioterápico, melhoria de circulação e da resistência à insulina, glaucoma, hipertensão, esclerose múltipla, enxaqueca,  obesidade, dentre outras condições. Esta versatilidade decorre do fato do ácido lipóico ser um antioxidante que consegue atuar tanto em meios hidro quanto lipossolúveis limitando danos oxidativos. Além disso, contribui para a reciclagem de outros compostos antioxidantes, como a vitamina C, a vitamina E, a glutationa e a coenzima Q10.

Uma das formas de funcionamento do ácido lipóico é como antiinflamatório. A obesidade, por exemplo, está associada a um estado sistêmico de inflamação crônica. O tecido adiposo acumulado produz várias citocinas pró-inflamatórias, incluindo o TNF-α, a IL-1β e a IL-6. Na obesidade há redução da adiponectina e resistência à leptina, com diminuição do seu efeito anorexígeno. A adiponectina tem altos efeitos anti-inflamatórios e anti-aterogênicos, diminui os níveis de TNF-α e PCR e, aumenta a produção de óxido nítrico (NO).

O tecido adiposo é a principal fonte de produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e o acúmulo de gordura está fortemente associado ao aumento do estresse oxidativo. A concentração de malondialdeído (MDA) reflete o grau de estresse oxidativo.

O ácido α-lipóico (ALA) é um forte antioxidante que pode inibir o ROS diminuindo o estresse oxidativo e protegendo contra proteínas e oxidação lipídica. Além disso, pode reciclar outros antioxidantes no organismo, como vitaminas C, vitamina E e glutationa. Doses de 330mg (2x/dia, por 3 meses) ajuda na redução do peso, inclusive em crianças e adolescentes (Amrousy & El-Afify, 2020), assim como em adultos (Huerta et al., 2019).

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Precauções: indivíduos com tendência à hipoglicemia devem ser cuidadosos no uso. Além disso, indivíduos fazendo uso de agentes antidiabéticos também devem procurar um nutricionista para ajuste de dosagens do suplemento. Não existem estudos suficientes para recomendações em indivíduo com hipotireoidismo. Estudos ainda estão sendo feitos acerca da segurança da suplementação conjunta com vitamina C e vitamina B1.

Possíveis efeitos colaterais do ácido lipóico: fique de olho em problemas cutâneos pois os mesmos foram reportados com o uso constante do suplemento.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/