Cannabis e canabinóides no autismo

O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e interação social, em múltiplos contextos, associados à presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Em estudo epidemiológico multicêntrico realizado em 2012, envolvendo nove países, a prevalência média estimada de TEA foi de 62 indivíduos por 10.000 habitantes. Crianças com autismo comumente apresentam comorbidades como hiperatividade, autoflagelação, agressividade, inquietação, ansiedade e distúrbios do sono. Esse tipo de comportamento prejudica o convívio social, aumenta a exclusão e limita as habilidades da criança, causando ainda sofrimento aos cuidadores.

O tratamento do TEA envolve uma série de terapias. Dependendo das comorbidades apresentadas drogas psicotrópicas, como antipsicóticos atípicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, estimulantes e ansiolíticos podem ser prescrito. Contudo, não tratam o TEA, apenas tentam reduzir comportamentos inadequados, como agitação psicomotora, agressividade e sintomas obsessivo-compulsivos. Estas drogas podem gerar efeitos colaterais graves, como nefropatia, hepatopatia, síndromes metabólicas, entre outros. Além disso, 40% das crianças com autismo e comportamentos disruptivos não respondem bem ao tratamento médico e comportamental padrão.

Assim, outras alternativas terapêuticas começam a ser exploradas, como modificações da dieta e o uso de substâncias derivadas da Cannabis sativa. A planta possui mais de 500 constituintes químicos ativos identificados, e cerca de 100 deles são classificados como fitocanabinóides. O principal fitocanabinóide é o THC, responsável pelos efeitos psicoativos da planta, seguido pelo canabidiol (CBD), isento dessa atividade. O CBD interage com o sistema endocanabinóide e pode modular diferentes aspectos relacionados à cognição, respostas socioemocionais, suscetibilidade a convulsões, nocicepção e plasticidade neuronal, que são frequentemente alteradas no autismo.

O sistema endocanabinóide é um sistema biológico único que afeta uma ampla gama de processos biológicos, incluindo o desenvolvimento e o funcionamento do cérebro. Consiste em receptores de canabinóides (CB1 e CB2, expressos principalmente no cérebro e periferia, respectivamente), seus ligantes endógenos (endocanabinóides, principalmente AEA e 2-araquidonoilglicerol [2-AG]) e enzimas para síntese e degradação de ligantes. Os endocanabinóides são moduladores-chave de respostas socioemocionais, cognição, suscetibilidade a convulsões, nocicepção e plasticidade neuronal.

Estudo mostrou níveis reduzidos de endocanabinóides, como anandamida (AEA), palmitoiletanolamida (PEA) e oleoetanolamina (OEA), em amostras de plasma de 93 crianças com TEA. Estudos de caso têm mostrado diminuição nos escores de hiperatividade, letargia, comportamento estereotipado e alteração de linguagem no TEA após o uso de óleo de cannabis com maior teor de CBD.

É importante notar que os endocanabinóides não são armazenados em nenhum compartimento celular para uso posterior. Eles são gerados sob demanda da membrana celular do neurônio pós-sináptico e são rapidamente inativados pela captação de células pré-sinápticas e hidrólise enzimática. Como resultado, as concentrações das várias vias endocanabinóides no cérebro são constantemente reguladas, e mesmo pequenas mudanças nessas concentrações podem ser clinicamente significativas.

As pesquisas realizadas até o momento mostraram que os efeitos colaterais são poucos (2,2 a 14%) e, quando ocorrem, geralmente são leves/moderados e transitórios (Silva Jr et al., 2022). Dentre os efeitos adversos observados destacam-se distúrbios do sono, inquietação, nervosismo e alteração do apetite, além de irritabilidade moderada, diarreia, aumento do apetite, hiperemia conjuntival, problemas de comportamento, diminuição da cognição, fadiga e agressividade/agitação.

O CBD é capaz de inibir a amida hidrolase de ácido graxo (FAAH), enzima responsável pela degradação do AEA, aumentando seus níveis na fenda sináptica. Esse aumento pode estar associado a uma melhora em alguns sintomas de TEA após o uso de produtos de cannabis ricos em CBD.

O CBD também pode alterar os níveis de glutamato, glutamina e GABA, substâncias que contribuem para a regulação da neurotransmissão excitatória e inibitória em indivíduos neurotípicos e autistas. No entanto, ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo, bem como estudos longitudinais, são necessários para esclarecer os achados sobre os efeitos da cannabis e seus canabinóides em indivíduos com autismo.

Fonte: Silva Jr. et al. (2022). Cannabis and cannabinoid use in autism spectrum disorder: a systematic review. Trends Psychiatry Psychother; 44: 1-10.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/