Coronavírus e obesidade: uma faca de dois gumes

No passado uma epidemia significa falta de alimentos e morte por desnutrição. Hoje, tudo mudou. A indústria se modernizou e os processos agrícolas também. Mesmo com a pandemia de COVID-19 os governos do mundo todo estão confiantes de que dificilmente faltará alimentos. Por outro lado, a combinação de inatividade física durante o confinamento e aumento do consumo de alimentos ultraprocessados (chocolates, sorvetes, pizzas, refrigerantes, sucos de caixa, gelatinas, bolos, salgadinhos, salsichas etc) pode ser uma combinação desastrosa aumentando o ganho de peso e o risco de várias doenças.

E o pior. Se o confinamento aumenta o risco de obesidade, a obesidade aumenta a mortalidade por coronavírus por vários motivos:

1) Pessoas obesas frequentemente possuem doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão, que aumentam o risco de complicações graves e morte pela infecção pelo COVID-19 (Peng et al., 2020; Qingxian et al., 2020; San Cristobal et al., 2020; Yang et al., 2020; Zhou et al., 2020; Ryan, Ravussin & Heymsfield, 2020). No Brasil, pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que o número de obesos no país aumentou 67,8% em 12 anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018. Os dados também apontaram que o crescimento da obesidade foi maior entre os adultos de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos, com 84,2% e 81,1%, respectivamente. Apesar de o excesso de peso ser mais comum entre os homens, em 2018, as mulheres apresentaram obesidade ligeiramente maior, com 20,7%, em relação aos homens, 18,7%. A gravidade da situação forçou o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) a incluir os indivíduos com obesidade mórbida na lista dos grupos de risco para desenvolverem doença grave por COVID-19.

2) Inflamação crônica é comum em indivíduos obesos e esta desregula a resposta imune (Ahn et al., 2015; Andersen et al., 2016). Pessoas obesas apresentam elevação de adipocitocinas e substâncias pró-inflamatórias, como TNF-alfa, MCP-1, IL-6, leptina, resistina e visfatina, e redução das adipocitocinas anti-inflamatórias (por exemplo: adiponectina e IL-10) (Jung & Choi, 2014; Richard et al., 2017). A resistência à leptina, comum na obesidade reduz ainda mais a resposta imune. Além disso, baixos níveis de interferon no obeso atenuam também ainda mais a resposta imune (Honce et al., 2020; Klinkhammer et al., 2018).

3) Pacientes obesos têm maior dificuldade respiratória, principalmente quando deitados. Possuem menor volume de reserva expiratório, menor capacidade funcional e complacência do sistema respiratório, o que aumenta a dispneia e os casos de falência respiratória em doentes com COVID-19 (Dietz & Santos-Burgoa, 2020; Pedersen & Ho, 2020; Zhang et al., 2020).

4) O sedentarismo também é comum em pessoas obesas, aumentando a resistência à insulina, que limita a resposta imune (Zheng et al., 2015). Esta resistência à insulina e aumento da glicemia gera elevação da expressão da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) e esta é porta de entrada para o coronavírus em nosso corpo. Pessoas fazendo uso de antihipertensivos e estatinas também podem estar com a ECA2 elevada (Muniyappa & Gubbi, 2020).

Além de estarem em maior risco, indivíduos obesos também podem colocar os demais em risco também se não implementarem as medidas adequadas de isolamento, uso de máscaras e lavagem das mãos. Isto porque pessoas obesas transmitem vírus por um tempo até 104% superior em relação a pessoas não obesas (Maier et al., 2018; Yan et al., 2018). O motivo é novamente a alteração imune. A menor produção de interferon e a rápida replicação do RNA viral favorecem o aparecimento de estirpes virais mais virulentas (Klinkhammer et al., 2018).

Ficando em casa precisamos todos encontrar novas rotinas saudáveis. Precisamos adotar uma dieta antiinflamatória, rica em frutas, verduras, leguminosas, água, proteína, ácidos graxos essenciais, fitoquímicos. Precisamos aprender a nos exercitar em casa, praticar yoga, meditar. As rotinas saudáveis do ayurveda também são muito bem vindas neste momento e você pode aprender mais clicando nos links desta página.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/