Nova proposta de classificação para a obesidade

A obesidade foi designada como doença pela Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos (AACE) em 2012, pela Associação Médica Americana em 2013 e, posteriormente, por vários profissionais médicos e associações nacionais e internacionais. A lógica é que a obesidade atende aos critérios essenciais de uma doença, incluindo acúmulo de gordura subcutânea e visceral, desregulação hormonal, aumento da morbidade (complicações biomecânicas e cardiometabólicas), estigmatização, depressão, transtornos depressivos e mortalidade.

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A progressão das complicações cardiometabólicas começa com a resistência à insulina, progride para os estados de alto risco da síndrome metabólica (SM) e pré-diabetes e depois culmina com diabetes tipo 2 (T2D), doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), doença cardiovascular (DCV) ou os três. A resistência à insulina gera:

  • defeitos na homeostase da glicose, oxidação de nutrientes e função mitocondrial;

  • aumento na inflamação e no estresse oxidativo;

  • alterações na concentração de lipídios e lipoproteínas no sangue, aumentando o risco cardiovascular;

  • comprometimento do armazenamento lipídico nos adipócitos, células musculares e hepatócitos;

  • aumento da vasorreatividade devido à redução da atividade endotelial de óxido nítrico sintase e produção de óxido nítrico.

A maioria das complicações podem ser prevenidas ou tratadas pela perda de peso. Assim, o objetivo do tratamento da obesidade como uma doença é melhorar a saúde dos pacientes, prevenindo, melhorando ou revertendo a obesidade, assim como suas complicações.

A AACE propõe distinguir o indivíduo com peso elevado sem complicações daqueles com complicações. Criou um novo termo diagnóstico, “doença crônica baseada na adiposidade”, que também foi recentemente adotada pela Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (EASO). A frase “baseada na adiposidade” é justificada porque a doença se deve principalmente a anormalidades na massa, distribuição e / ou função do tecido adiposo. A frase “doença crônica” indica que a doença é vitalícia e associada a complicações que aumentam a morbimortalidade e que possui um histórico natural que oferece oportunidades para prevenção primária, secundária e terciária

A nova classificação proposta considera três dimensões:

1 - A primeira dimensão é a etiologia (causa), que inclui duas categorias: (1) doença multifatorial, representando a maioria dos pacientes, e (2) obesidade decorrente de fatores específicos identificáveis, como anormalidades genéticas, distúrbios endócrinos, causas iatrogênicas, imobilização ou doença psiquiátrica .

2 - A segunda dimensão é o grau de adiposidade, abrangendo seis categorias de valores de Índice de Massa Corporal (IMC).

3 - A terceira dimensão é o risco à saúde classificado de baixo a intermediário e alto. Baixo risco abrange obesidade sem complicações. O risco intermediário incorpora uma ampla gama de fatores, incluindo histórico familiar de doença cardiometabólica, tabagismo, inatividade física e presença de características da SM. Alto risco é definido como a presença de diabetes, síndrome metabólica, doença cardiovascular, doença renal crônica e distúrbios músculo-esqueléticos.

A proposta constitui um avanço notável, pois reconhece a obesidade como uma doença heterogênea no que diz respeito à fisiopatologia e incorpora uma dimensão que reflete o impacto do excesso de adiposidade na saúde. A proposta também pede a avaliação da circunferência da cintura como um indicador da massa do tecido adiposo ventral, reconhecendo que anormalidades na massa e na distribuição do tecido adiposo podem contribuir para a carga de complicações.

A nova classificação proposta receberá códigos (A, B, C, D) e o artigo completo com as explicações pode ser lido aqui (Garvey & Mechanick, 2020).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/