Polifenóis quelam gliadina reduzindo o efeito inflamatório do glúten no intestino

Prolaminas são um grupo de proteínas de armazenamento vegetais com elevada quantidade de prolina e que se encontram nas sementes de cereais como trigo (gliadina), cevada (hordeína), centeio (secalina), milho (zeína) e aveia (avenina). Estas proteínas caracterizam-se por terem elevado conteúdo de glutamina e prolina. Algumas destas prolaminas, em particular a gliadina do trigo, podem induzir doença celíaca e intolerância ao glúten em indivíduos predispostos geneticamente.

Polifenóis, como a epigalocatequina galato do chá verde ligam-se a estas proteínas, agindo como sequestrantes do glúten. Outros polifenóis com o mesmo efeito são mostrado na figura abaixo:

Ribeiro et al., 2020 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7346119/

Ribeiro et al., 2020 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7346119/

A interação entre polifenóis e o glúten reduzem a digestibilidade desta proteína, impedindo-a de chegar à corrente sanguínea. Quando o glúten é parcialmente digerido estimula exageradamente o sistema imune de algumas pessoas, o que causa inflamação e reações diversas como desconforto abdominal, tontura, dores de cabeça ou musculares, mudanças de humor, inchaço, enxaqueca, problemas de pele.

Ribeiro et al., 2020 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7346119/

Ribeiro et al., 2020 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7346119/

Os polifenóis são o motivo de muitas pessoas não tolerarem o glúten mas tolerarem a aveia. Este cereal é rico em avenantramidas com ação antioxidnate, anticancerígena, antiinflamatória e antialérgica. Além disso, pode sequestrar o glúten, reduzindo reações.

De qualquer forma, lembre que existem formas de investigarmos seu caso mais a fundo. Exames genéticos nos ajudam a avaliar a susceptibilidade das pessoas ao glúten. Para agendamento de consulta clique aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Benefícios da aveia para a saúde

A aveia foi o primeiro alimento funcional autorizado a ser divulgado no Brasil pela ANVISA. Os estudos com este alimento são antigos e mostram que a aveia possui polifenóis com ação antioxidante, reduzindo o risco de aterosclerose, obesidade, doença inflamatória intestinal e diabetes. É o que discuto neste novo vídeo:

E se faltam fibras na dieta?

Na falta de fibras, as bactérias presentes no intestino utilizam glicanos presentes no muco intestinal para se proliferarem, aumentando a permeabilidade intestinal. Quando as células afastam-se, pedaços de bactérias, proteínas mal digeridas e xenobióticos (substâncias estranhas como agrotóxicos) podem passar para a corrente sanguínea, inflamando todo o corpo.Cerca de 70% da energia dos colonócitos (células do intestino grosso) vêm de fermentação das fibras pelas bactérias intestinais. A partir dessa fermentação são produzidos ácidos graxos de cadeia curta (especialmente o butirato) que servem de energia para o intestino.

A redução da integridade da barreira intestinal leva à endotoxemia e inflamação crônica sistêmica. O excesso de proteína animal, principalmente quando mal digeridas, seja por falta de mastigação, hipocloridria, ingestão de líquido durante a refeição, insuficiência pancreática e biliar ou excesso no consumo, estimula a proliferação de bactérias tolerantes à bile redutoras de sulfato. Elas utilizam aminoácidos, como cisteína, metionina e taurina, produzindo ácido sulfídrico.

Essas bactérias também degradam as glicoproteínas do muco intestinal e produzem enzimas proteolíticas, agravando a hiperpermeabilidade intestinal. Quando há falta de muco, alimentos mal digeridos e paredes intestinais permeáveis, as toxinas e bactérias atingem a corrente sanguínea, ativando o sistema imunológico, aumentando a reatividade e suprimindo a tolerância. Ou seja, o sistema imune perde a capacidade de diferencial o que é próprio do que não é próprio, gerando um processo de autoimunidade. Podem surgir então alergias e o risco de doenças autoimunes, como tireoidite de Hashimoto aumenta.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o consumo mínimo diário de 600g de frutas, verduras e hortaliças. Outros autores falam em 600g ao dia. Ainda estimulam a mastigação, produzindo o fator de crescimento epitelilal durante esse processo, capaz de estimular a reparação das células epiteliais do trato gastrointestinal.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Carboidratos e anabolismo

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Carboidratos são nutrientes importantes para o anabolismo. Como vimos no vídeo, o consumo de carboidratos + proteínas é mais eficiente para o ganho de massa magra do que o consumo de proteínas isoladas. 

Além disso, dietas pobres em carboidratos aumentam a produção de cortisol (hormônio do stress), o qual induz resistência à insulina. E o cortisol elevado cronicamente (por longos períodos) aumenta a produção de gordura. 

A explicação das dietas “low-carb” ou cetogênicas pode fazer sentido bioquimicamente. Porém, quando cientificamente testadas, não funcionam tão bem quanto na teoria. Estudos que compararam restrição de carboidrato ou de gordura ou de calorias para a perda de peso mostraram resultados similares. A dieta com baixo teor de carboidratos costuma oferecer vantagem nas primeiras semanas, porém, a partir de 2 meses o resultado tende a igualar-se e manter-se igual até o final dos estudos, sendo que há trabalhos com com mais de 12 meses. (Brinkworth et al., 2016; Watson et al., 2016). Ou seja, cortar carboidratos não te oferece vantagem no emagrecimento. Apenas aumenta o sacrifício. Escolha carboidratos integrais que mantenham suas propriedades reguladoras como como frutas, aveia e cereais in natura ou cozidos como arroz integral, milho, mandioca, batata, batata-doce, inhame, cará, entre outros. 

Índice glicêmico

O índice glicêmico (IG) consiste na capacidade do alimento em elevar a glicose sanguínea. Quanto mais rapidamente a glicose chega à corrente sanguínea maior é o IG do alimento. O mesmo pode ser classificado como baixo (<55 ) médio (56-69) e alto (>70). 

Alimentos com alto IG são mais rapidamente digeridos. A glicose chega rapidamente à circulação e estimula a produção do hormônio insulina pelo pâncreas. Quanto maior este estímulo, maior o risco de desenvolvimento de resistência à insulina e de inflamação crônica gerada por este hormônio. 

O IG de um alimento varia em função do processo de cocção utilizado durante o preparo do alimento. Por exemplo, a batata doce tem IG baixo mas quando se faz um chips de batata doce esse índice aumenta. Ou seja, a glicose que está disponível no alimento passa a ser absorvido mais rapidamente. Isso porque para fazer os chips, a batata é cortada em pedaços finos. Além disso, a temperatura do forno em geral ultrapassa 180oC. Sob tais condições, muitas ligações glicosidicas são quebradas e o IG da batata doce sobe. 

Como a insulina é um hormônio anabólico, ou seja, que promove estoque, quanto mais carboidrato estiver circulando maior será o estoque. No caso, o carboidrato é estocado na forma de glicogênio e gordura. Assim, quando os carboidratos são consumidos excessivamente, especialmente quando são de alto IG, podem prejudicar o emagrecimento e aumentar o risco de diabetes tipo 2 e síndrome metabólica. 

E a frutose? Seu metabolismo é mais rápido que o da glicose, por esse motivo, pode-se elevar significativamente a taxa de lipogênese (produção de gordura), em função do aumento da produção de acetil-CoA, prejudicando, portanto, o processo de emagrecimento. Por isso, cuidado com alimentos ricos em frutose, xarope de frutose, xarope de milho, associados ao maior risco de várias doenças. Deixei uma aula em anexo para que possa compreender melhor.

E as frutas? Elas são ricas em fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos protetores da saúde e que contribuem para o ganho de massa muscular. Já refrigerantes são uma mistura de água com frutose. É bem diferente. Aliás, entre todas as estratégias promotoras da saúde o consumo de frutas está entre as mais importantes. Veja neste vídeo

As frutas e verduras são ainda essenciais para a redução da acidose metabólica (Fizzomo, Frassetto e Katzinger, 2010), um fator a restringir o ganho de massa magra. Por exemplo, estudos mostram que uma dieta mais alcalina favorece a manutenção da massa magra em mulheres (Welch et al., 2013) e em idosos (Dawson-Hughes, Harris e Ceglia, 2008).

Uma estratégia a utilizar, caso deseje reduzir o índice glicêmico da refeição ou dos lanches com frutas, é adicionar mais fibras ao cardápio. Por exemplo, abacaxi tem um IG alto, mas abacaxi com aveia em flocos tem um índice glicêmico menor já que as fibras da aveia atrasam a digestão.

A aveia é rica em fibras beta-glucanas, que reagem com a água e retardam o esvaziamento gástrico, diminuem a área de contato dos alimentos com a parede intestinal, diminuem o pico glicêmico e aumentam a liberação de hormônios da saciedade (Rebello et al., 2016). 

Outras estratégias para reduzir o IG durante refeições e lanches:

1. Prefira o consumo da fruta inteira (com casca e bagaço);

2. Reduza o consumo de sucos e elimine os refrigerantes;

3. Aumente o consumo de fontes de fibras solúveis (aveia, chia, linhaça, leguminosas) junto de alimentos com maior índice glicêmico;

4. Associe castanha-do-Brasil ou semente de abóbora `as frutas consumidas nos lanches intermediários;

5. Acrescente uma colher de sopa de azeite de oliva extra-virgem ou óleo de abacate junto `as principais refeições. As gorduras também atrasam a digestão; 

6. Evite o preparo de mingaus e purês. O aquecimento favorece o processo de gelatinização do amido, aumenta a superfície de contato do alimento e a ação das enzimas digestivas. Com isso, a velocidade de absorção do açúcar presente nos alimentos aumenta;

7. Prefira grãos integrais. Os mesmos possuem fitoquímicos que retardam a ação das amilases e diminui a velocidade de digestão e absorção de açúcares. Outra opção é utilizar o farelo de aveia nas suas preparações. O mesmo pode ser adicionado a pães caseiros ou outros pratos, diminuindo o IG da refeição. 

Saiba mais no curso online: "Nutrição no ganho de massa magra"

Referências:

Brinkworth et al., (2016). Long-term effects of a very-low-carbohydrate weight-loss diet and an isocaloric low-fat diet on bone health in obese adults. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27157472

Hernández Alcantara, Cruz e Bacardí Gascón (2015). EFFECT OF LOW CARBOHYDRATE DIETS ON WEIGHT LOSS AND GLYCOSILATED HEMOGLOBIN IN PEOPLE WITH TYPE 2 DIABETES: SYSTEMATIC REVIEW. doi 10.3305/nh.2015.32.5.9695

Johnston et al. (2014). Comparison of Weight Loss Among Named Diet Programs in Overweight and Obese Adults: A Meta-analysis. Disponível em: http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1900510

Mancini et al. (2016). Systematic Review of the Mediterranean Diet for Long-Term Weight Loss. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26721635

Sacks et al. (2009). Comparison of Weight-Loss Diets with Different Compositions of Fat, Protein, and Carbohydrates. Disponível em: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0804748#t=article

Watson et al. (2016). Effects of Low-Fat Diets Differing in Protein and Carbohydrate Content on Cardiometabolic Risk Factors during Weight Loss and Weight Maintenance in Obese Adults with Type 2 Diabetes. Disponível em: http://www.mdpi.com/2072-6643/8/5/289

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/