INSÔNIA E RISCO DE OBESIDADE NO TEA

Se não dormimos bem, o reparo celular não é eficiente, as dificuldades cognitivas aumentam, perdemos o foco, sentimo-nos cansados, apáticos ou irritados. Além disso, a imunidade é comprometida, alguns hormônios desequilibram-se e o risco de obesidade aumenta. Isto acontece com todos e no autismo isto também é verdade.

Muitas pessoas no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) chegam ao meu consultório acima do peso. Na maioria das vezes, o ganho de peso exagerado inicia-se na infância. Os pais sentem-se aliviados se a criança está comendo (qualquer coisa). Só que estar com peso adequado não significa estar bem nutrido. E estar acima do peso também não.

Pesquisas mostram que crianças e adolescentes com TEA podem ter mais de duas vezes as chances de serem obesos do que pessoas neurotípicas (Sammels et al., 2022). O problema tende a agravar-se após a adolescência, uma vez que paramos de crescer e o metabolismo naturalmente desacelera-se. O excesso de peso aumenta o risco de doenças cardíacas, diabetes, artrite, hipertensão, dislipidemias, apneia do sono, depressão, doenças hepáticas e biliares, dores e redução da qualidade de vida.

Por que a obesidade é mais comum no autismo?

Idade avançada, medicação psicotrópica (algumas aumentam fome e ganho de peso), menor atividade física e alto consumo de alimentos e bebidas altamente calóricos parecem aumentar o risco de desenvolvimento de obesidade entre crianças e adolescentes com TEA. Alterações no metabolismo, incluindo distúrbios endócrinos e distúrbios gastrointestinais também podem levar ao ganho de peso.

A genética também é um fator contribuinte. Contudo, o ambiente é fundamental. Pais acima do peso com filhos autistas costumam ter filhos mais pesados, especialmente se o grau de escolaridade da família for menor. Isto influencia empregabilidade, renda, acesso a alimentos saudáveis, a serviços etc.

Mas voltando ao início. Dormir mal altera o metabolismo e contribui com o ganho de peso. São muitos os fatores que contribuem para os problemas de sono no TEA, como intolerâncias alimentares, carências nutricionais, infecções, esterotipias, apneia etc.

A investigação precisa ser minuciosa. O médico precisará descartar problemas metabólicos, genéticos, infecciosos, alérgicos. O ambiente precisará mudar. Acordar cedo e tomar sol, ir para a cama cedo, em ambiente gostoso, com temperatura agradável, pouca luz.

Aumentar atividade física em família e sumir com as guloseimas é um passo importante. Doces precisam ser encarados como comida de festa. Para os intolerantes ao glúten, trocas precisarão ser feitas. Mesmo um consumo pequeno pode manter o corpo inflamado por até 3 meses. E inflamação descontrola fome, altera o metabolismo e favorece o ganho de peso.

As porções precisarão ser menores. Excesso de consumo favorece o ganho de peso e favorece a apneia, prejudicando o sono. Por isso, pratos, copos, xícaras devem ser reduzidas em tamanho. Vegetais, proteínas e gorduras de qualidade devem fazer parte da maioria das refeições da família.

Desligar TV e celular e fazer as refeições à mesa também é muito importante para o controle das porções. Tudo é mais desafiador para quem possui sensibilidades alimentares. É importante trabalhar com um especialista em terapia alimentar.

Reações adversas aos alimentos e influência no sono

É muito comum que crianças no TEA apresentem reações adversas aos alimentos. Peptídeos opióides geram mais inflamação, aumentam o risco de infecção e dor, o que prejudica o sono. Alimentos inadequados contribuem para a disbiose intestinal, deficiências nutricionais (ferro, zinco, B12, B6, magnésio, cálcio), pernas inquietas e maior dificuldade de relaxamento noturno.

Alergias e hipersensibilidades alimentares estão associadas a esofagite, atopia, problemas de adenoide, hipoxia celular, hipoglicemia. Reações adversas a medicamentos geram estresse no organismo liberando cortisol. Com a dor, o cortisol aumentado afeta o sistema nervoso central e o comportamento, principalmente por dificultar o relaxamento.

TRATAMENTO DA INSÔNIA NO TEA

O tratamento varia de acordo com a causa do problema. O tratamento da asma é diferente do tratamento da apneia do sono, que é diferente da otite, o dos efeitos adversos à medicamentos. Por isso, o acompanhamento médico é fundamental.

De forma complementar, podem ser usados óleos essenciais, como lavanda em difusor distante da cama da criança ou mesmo misturado ao óleo de coco ou amêndoas para uma massagem nos pés. A rotina do sono é importante para a toda a família ir desacelerando a partir do final da tarde. Tirar as telas e ir para os livros, reduzir poeira, ácaros, manter o ambiente limpo.

Para uma ajuda na produção da melatonina (hormônio do sono) existem suplementos manipulados contendo 5-HTP, camomila, vitamina B6, magnésio, teanina.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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