Ansiedade e uso de canabinóides: efeito depende de sua genética

Apesar da esmagadora prevalência de transtornos de ansiedade na sociedade moderna, medicamentos e psicoterapia muitas vezes não conseguem alcançar a resolução completa dos sintomas. Uma abordagem complementar para medicar os sintomas é abordar as patologias metabólicas subjacentes associadas a doenças mentais e ansiedade. Isso pode ser alcançado por meio de intervenções nutricionais.

A microbiota alterada e a inflamação estão entre os grandes influenciadores da ansiedade. Estudos mostram a importância dos ansiosos aprenderem a respirar, fazer uma coisa de cada vez, mas também evitar adoçantes artificiais e glúten, incluir mais ácidos graxos ômega-3 e açafrão na dieta, suplementar com vitamina D e fazer ciclos de dietas cetogênicas (Norwitz, & Naidoo, 2021).

A produção de neurotransmissores depende de nutrientes. Assim, uma dieta saudável é muito importante para o combate da ansiedade. Outros pacientes possuem um quadro neuroinflamatório que começou lá no intestino e precisa ser cuidado. Aprenda aqui a tratar a disbiose intestinal.

Como tantas outras pessoas possuem um metabolismo glicolítico alterado, especialmente a partir dos 40 anos, beneficiam-se de uma dieta cetogênica de características antiinflamatórias. A atividade física também não pode ser esquecida, pois estimula o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e contribuem para o tratamento da depressão.

A alta ansiedade também tem sido associada a variantes genéticas que afetam o sistema endocanabinóide. O uso de CBD e THC em diferentes concentrações vem sendo estudado. O CBD tem efeito antiinflamatório e ansiolítico e o THC tem efeito euforizante.

Muitas pessoas tornam-se mais ansiosas quando usam compostos contendo THC, principalmente em doses altas. Dependendo da genética da pessoa, também pode desencadear ou agravar sintomas psicóticos e paranoias. THC também pode prejudicar concentração, memória recente, além de deixar a pessoa muito lenta.

Produtos liberados de CBD ao redor do mundo possuem quantidades baixíssimas de THC (máximo de 0,2% na Europa e 0,3% nos EUA), para segurança do paciente. Na maioria dos países da Europa o CBD é considerado um suplemento e o THC é um medicamento. No Brasil, ambos são considerados medicamentos, liberados apenas com prescrição médica. Doses ideais ainda estão sendo investigadas. Existem pessoas tomando entre 6 a 600 mg/dia. Ou seja, a variabilidade de uso e respostas é muito grande e, como não há consenso sobre o uso, mais estudos sobre dosagens são necessários (Skelley et al., 2020).

Parece que o efeito (positivo ou negativo) depende, pelo menos em parte, da genética de cada pessoa. O receptor canabinóide CB1 tem um papel importante na regulação da ansiedade e na resposta ao estresse. A exclusão genética ou bloqueio do receptor CB1 em camundongos gera um comportamento de ansiedade social. Da mesma forma, o aumento da ansiedade é observado em muitas pessoas que faziam uso de rimonabanto, medicamento para emagrecimento, antagonista do CB1.

A ansiedade é influenciada também pelos níveis de serotonina, regulados pelo transportador de serotonina. Um polimorfismo comum no gene transportador de serotonina (SLC6A4). A região promotora do SLC6A4, conhecida como 5-HTTLPR, tem dois alelos:

  • 5-HTTLPR versão longa (“L”) – níveis mais altos de transportador de serotonina

  • 5-HTTLPR versão curta (“S”) – reduz os níveis do transportador de serotonina

O polimorfismo CB1 rs2180619 foi significativamente associado à ansiedade, mas teve um efeito oposto dependendo do genótipo 5-HTTPLR! Nos portadores de 5-HTTLPR L, o genótipo CB1 GG foi associado a uma taxa dois terços menor de alta ansiedade. Já nos portadores de 5-HTTLPR SS, o genótipo CB1 GG foi associado a uma taxa quase 5 vezes maior de alta ansiedade.

Tanto o receptor CB1 quanto o transportador de serotonina regulam os níveis de serotonina. Os níveis de serotonina (por serem muito altos ou muito baixos) podem afetar a ansiedade de forma aguda ou por meio de efeitos no neurodesenvolvimento. Atualmente, grupos de pesquisa também estudam a influência de receptores CB1 e CB2 com outros genes como FAAH, MAGL, DAGL-α, dentre outros.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/