Para que servem os 10 suplementos mais prescritos na Síndrome de Down?

Muitos profissionais recusam-se a prescrever suplementos para pessoas com síndrome de Down (SD). O interessante é que estes mesmos profissionais frequentemente indicam vitaminas, minerais ou outros compostos para crianças, adolescentes e adultos típicos. Ao mesmo tempo, muitos medicamentos são indicados precocemente para crianças com SD. Por exemplo, o uso desnecessário de remédios para tratar o hipotireoidismo subclínico pode colocar uma pressão excessiva no coração e também resultar em perda de densidade óssea.

Existe sim um uso indiscriminado de suplementos nunca antes testados na síndrome de Down. Existem também suplementos que podem causar danos ao fígado, principalmente em crianças pequenas ou quando usados por longos períodos de tempo. Por isso, todo cuidado é pouco. Infelizmente, com a resistência de profissionais de saúde as pesquisas na área andam lentamente e muitos pais sentem sozinhos e acabam utilizando suplementos por conta própria. Alguns, comprados no exterior não são fiscalizados ou regulados e são frequentemente adulterados.

Uma pesquisa realizada com pais de pessoas com SD mostrou um grande uso de suplementos. Foram apontados mais de 150 compostos diferentes, usados pelas família na esperança de melhoria no desenvolvimento, aprendizagem, metilação , imunidade, funcionamento intestinal, funcionamento tireoidiano, redução da neuroinflamação, produção de energia etc. . Além disso, existem os suplementos que supostamente melhoram a função tireoidiana, o processo de e reduzem a neuroinflamação. Dentre os suplementos citados, destacam-se:

1 - Curcumina: este composto é o principal ingrediente ativo do açafrão. Possui ação antiinflamatória e antioxidante, contribuindo para a prevenção do Alzheimer e para o tratamento da depressão (Ahmed & Gilani, 2014). Poucos estudos, entretanto, compararam o efeito da curcumina versus o efeito do uso do condimento açafrão. Por que isso seria importante? Porque além da curcumina, o açafrão da terra possui cerca de 300 outros compostos ativos, como tumeronas e vários agentes antiinflamatórios.

Apesar do açafrão ser utilizado há milênios, o uso da curcumina isolada é recente. Estudos mostram que enquanto dosagens baixas possuem um efeito protetor, dosagens altas agridem o fígado e outros tecidos. Não existem estudos com crianças com síndrome de Down. Por isso, enquanto em teoria o uso é muito interessante na prática precisamos ser cuidadosos, dosando periodicamente enzimas hepáticas.

Já o açafrão em pó pode ser utilizado diariamente na comida da família. Para melhor absorção dos compostos ativos tempere com alho, cebola e pimenta.

2 - EGCG: o principal composto ativo do chá verde tem sido utilizado para reduzir a atividade da enzima quinase 1A e da metaloproteínase 9, que estão superexpressas na trissomia do cromossomo 21. Esta inbição é importante para proteger o sistema nervoso (Wyganowska-Świątkowska et al., 2018). O EGCG e seus metabólitos também possuem função antioxidante, reduzindo o estresse oxidativo e a assimetria ou dismorfia facial.

Grande parte do EGCG consumido via chá verde é degradado por bactérias intestinais. Não há problema nisto, pois os metabólitos produzidos pelas bactérias também possuem ação protetora no organismo (Pervin et al., 2019). Porém, quando são usadas dosagens altas do EGCG puro o risco de insuficiência hepática e renal e anemia aumentam. O EGCG em altas doses tmabém interfere no metabolismo do folato (vitamina B9). Por isto, o uso deve ser criterioso.

3 - Coenzima Q10 (CoQ10) - este antioxidante solúvel em gordura é naturalmente produzido em nosso corpo e está presente em todas as células humanas, com a maior concentração dentro das mitocôndrias. A CoQ10 desempenha um papel fundamental na produção de energia e sua baixa produção acelera o declínio cognitivo. Mutações genéticas, disfunção mitocondrial, estresse oxidativo e envelhecimento são fatores que reduzem a capacidade de produção de CoQ10.

Há correlação entre os baixos níveis de CoQ10 e maior inflamação e prejuízo no neurodesenvolvimento (Zaki et al., 2017). As principais fontes de CoQ10 na dieta são sardinha, amendoim, pistache, gergelim e nozes. Porém, podemos usar a clorofila dos vegetais verde escuros para reciclar a CoQ10 . Por isso, a dieta precisa ser bem variada, para que haja melhoria no funcionamento mitocondrial e na produção energética. Assim, como no caso da curcumina e do EGCG, dosagens altas também podem alterar enzimas hepáticas. Por isto, a definição de dosagem deve ser feita por especialista e o acompanhamento deve ser criterioso.

4 - Vitamina D - a hipovitaminose D é muito comum em toda a população e na SD não é diferente. A manutenção dos níveis plasmáticos próximos a 30 ng/ml reduz dores, previne deformidades ósseas, diminui o risco de obesidade, além de fortalecer o sistema imunológico, retardar o envelhecimento, melhorar o ganho de massa magra e o equilíbrio.

5 - Vitaminas do complexo B, glutationa e SAMe - O ciclo da metionina frequentemente está alterado na SD, muitas vezes por polimorfismos em genes, como o MTHFR. Como consequência há aumento de homocisteína, menor produção de SAMe, interferências na metilação e redução na produção de glutationa, um importante antioxidante. Para contornar o problema podem ser prescritas vitaminas do complexo B, em quantidades adequadas, na forma ativa. Cuidado em relação à dosagem, pois assim como metilar pouco é ruim, metilar muito também.

Glutationa também pode ser suplementada mas com cuidado pois pode reduzir a aborção de zinco. Os suplementos de SAMe podem exacerbar manias. Existe também uma preocupação teórica sobre o uso do SAMe por pessoas com sistema imune comprometido, pois correm maior risco de infecção por bactérias como Pneumocystis carinii, e o SAMe aumenta o crescimento desse microorganismo. Além disso, não existem estudos de longo prazo a cerca desta suplementação em pessoas com SD.

6 - Vitaminas antioxidantes - Indivíduos com síndrome de Down (SD) apresentam altos níveis de estresse oxidativo ao longo da vida, o que acelera o envelhecimento e o risco de Alzheimer precoce. Ensaios tentam identificar a eficácia de suplementos e alimentos fortificados com antioxidantes na redução do estresse oxidativo nestes indivíduos. Lembrando que nas dosagem adequadas vitaminas como A, C e E possuem efeito antioxidante (ou seja, reduzem radicais livres), enquanto em altas quantidades possuem efeito oposto.

7 - Ômega-3 - esta família de ácidos graxos essenciais possui propriedades antiinflamatórias e neuroprotetoras. Estudos mostram que o consumo adequado de ômega-3 (que está presente na chia, linhaça, peixes de água fria e profunda) melhoram o desenvolvimento cognitivo, beneficiando a memória, atenção e raciocínio.

Contudo, suplementar ômega-3 não gera efeitos positivos caso o fígado e seus peroxissomos (organelas que metabolizam gorduras) não estejam funcionando adequadamente (Saiba mais aqui). Assim, muito cuidado com suplementos a base de ervas que possam comprometer o funcionamento hepático. O ômega-3 também deve ser descontinuado antes de cirurgias, pois aumenta o risco de sangramento.

8 - Minerais (zinco, selênio, cálcio, magnésio, iodo): estes são os minerais mais importantes para a função tireoidiana, para a imunidade, fortalecimento de ossos, dentes e frequentemente estão em baixas concentrações em pessoas com SD. A recomendação varia por sexo e faixa etária. Consulte seu nutricionista para avaliação nutricional e da necessidade de suplementação.

9 - Resveratrol - polifenol produzido naturalmente em plantas com o objetivo de protegê-las contra pragas, bactérias e fungos. Estudos mostram que, em seres humanos, este composto encontrado nas uvas vermelhas e roxas, no mirtilo (blueberry), na azeda, no amendoim e no cacau, gera vários benefícios. É capaz de suprimir a formação de células anormais, responsáveis pelo desenvolvimento da leucemia. O composto natural também está envolvido na prevenção do envelhecimento precoce e de problemas no fígado, além de ter uma propriedade antiinflamatória e antioxidante.

O estresse oxidativo associa-se à prejuízos cognitivos, hipotonia, maior risco de Alzheimer. Neste sentido, o resveratrol pode ser um aliado. Porém, como possui baixa disponibilidade, os efeitos reais na SD são ainda desconhecidos. Além disso, assim como o ômega-3 pode aumentar o risco de sangramento. Também interage com medicamentos como aspirina e ibuprofeno, elevando ainda mais este risco.

10 - Probióticos - Um dos suplementos mais interessantes na SD por seus múltiplos efeitos. Reduz a hiperpermeabilidade intestinal, melhora a absorção de minerais, equilibra o pH, fortalece a imunidade. Existem várias composições possíveis de probióticos e estas variam de acordo com a necessidade do momento.

Muitas empresas misturam vários destes suplementos em um único produto. Muitas destas misturas são desaconselhadas pois há competição entre os vários componentes da fórmula e redução da biodisponibilidade de muitos nutrientes. Além disso, com a mistura não é possível individualizar as quantidades para cada caso.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/